As conversas para que a Natura compre operações da Avon estão bastante avançadas e podem ser concluídas em breve, segundo pessoa com conhecimento do assunto. E o principal interesse da fabricante brasileira de cosméticos é nas operações da Avon no Brasil.
Portanto, disse a fonte, a venda anunciada ontem da Avon North America (ou New Avon), uma empresa de capital fechado que reúne os negócios nos Estados Unidos, no Canadá e em Porto Rico, à sul-coreana LG Household & Health, não afeta as conversas com a Natura.
Questionada pelo Valor, a Natura informou que não comentaria a transação fechada ontem. Mas observou: “Como já informado ao mercado, estamos em discussões com a Avon Products Inc., a empresa de capital aberto com operações fora da América do Norte”. A Avon Products, com sede em Londres, tem negócios em 50 países e seu maior mercado é o Brasil.
As ações da Natura dispararam ontem na bolsa de valores. Pouco depois do início do pregão, às 10h10, subiam 4,4% e fecharam o dia em alta de 10%, a R$ 49,28, sendo o destaque positivo do Ibovespa ao longo do pregão.
Também ontem, o diretor financeiro da Natura, José Filippo, disse que a companhia considera emitir American Depositary Receipts (ADRs) nos Estados Unidos no futuro como parte de sua estratégia de expansão global dos negócios. Considerando as ações negociadas em bolsa, o executivo afirmou que a Natura já atrai quantidade expressiva
de estrangeiros e que o programa de ADRs permitiria aumentar essa oferta.
“Nós já desenvolvemos essa tração com investidor estrangeiro. E programa de ADRs certamente permitiria aumentar essa oferta e acessar mais. Entendo que já somos companhia que atrai interesse do investidor”, disse o executivo. O plano de emitir ADRs não seria feito no curto prazo, necessariamente, disse o executivo, que ontem participou de um evento organizado pela Bloomberg.
Filippo reafirmou que a geração de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) sólida está colaborando para que a Natura atinja a meta de redução da alavancagem antes do previsto. Esse indicador é medido pela relação entre a dívida líquida e o Ebitda.
Segundo o diretor financeiro, a previsão de alavancagem de 1,4 vez até 2021 está mantida. Antes, a expectativa era alcançar esta redução até 2022. No fim do 2018, o indicador da companhia ficou em 2,71 vezes, um recuo de 0,3 ponto percentual ante o ano anterior.
Para Andres Estevez, analista do banco Brasil Plural, as declarações do diretor financeiro colaboraram para que as ações da Natura tivessem altas expressivas na bolsa de valores. “A alavancagem da companhia é uma preocupação para os investidores, especialmente depois da compra da rede The Body Shop, em 2017, portanto, uma sinalização como esta foi positiva”, afirmou.
Analistas se surpreenderam com a venda da New Avon, pois havia o entendimento de que a Natura pretendia entrar com mais força nos Estados Unidos. Mas, ao mesmo tempo, consideraram positivo o fato de a brasileira ainda estar negociando com a Avon Products.
“Este anúncio surpreendeu porque muitos acreditavam que a negociação [da Natura] incluiria a América do Norte”, acrescentou o analista do Brasil Plural. Ele considera que aumentar a musculatura da Natura no mercado americano seria um passo importante para a fabricante brasileira. Por outro lado, é sabido que a New Avon é problemática.
“Acredito que essa transação com a LG H&H pode abrir caminho para uma potencial combinação de negócios da Natura com a Avon Products e a completa saída do Cerberus [do negócio], após ter perdido muito dinheiro”, afirmou Douglas Lane, Diretor da consultoria Lane Research, em relatório.
Segundo Lane, a transação anunciada com a LG pode deixar a discussão entre Natura e Avon mais suave. “Embora acreditemos que a Natura provavelmente desejaria uma entrada no grande mercado dos Estados Unidos, talvez a Avon North America, com suas recentes lutas operacionais e balanço financeiro menos que limpo, não seja esse veículo”.
Para Lane, comprar a Avon ainda dá à Natura a oportunidade de dominar o mercado de venda direta de beleza no Brasil, aumentar substancialmente sua presença em outros lugares da América Latina e entrar com este modelo na Europa e na Ásia. Ele considera que agora os interesses do Cerberus e da Avon estariam mais alinhados, algo que talvez não estivesse em relação à América do Norte.
Marcelo Pinheiro, sócio-fundador da consultoria especializada em vendas diretas DirectBiz, disse que “a Avon North America era uma parte do bolo que menos estava contribuindo para o negócio. Creio que agora [com a venda à LG] a possibilidade de concretização do negócio [entre Natura e Avon Products] aumenta”. No início deste ano, a New Avon já havia vendido sua fábrica em Guangzhou, na China, para o conglomerado sul-coreano por US$ 44 milhões.
Por Vanessa Adachi e Alexandre Melo